quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Dentro do Poema Sujo (Homenagem a Ferreira Gullar)

Escrever não tem a menor importância.
O que importa, de fato,
é o exercício, o ato
pelo qual desato minha ânsia
dos abismos em que se perdera
em noites sem esperança,
sem vinho, sem passo de dança:
desespero maior, que em mim se instalara.

Por favor! Não me busquem em entrelinhas.
Leiam-me sem duplo sentido.
Claro, que, com algum cuidado,
pois, do poema saltam farpas envenenadas,
que poderão atingir o leitor desavisado,
ferindo-o e levando-o ao lamentável estado
de, também, querer abrir suas veias,
mostrando-se despido, e sem defesas, ao mundo.

Ah, essa dor e esse prazer de escrever.
Ah, essa vontade de sangrar a própria jugular
e, depois, esvair-se na hemorragia, lentamente,
tentando a vida compreender
à medida que se esvazia a Mente,
buscando alento onde não se supusera havido.

Ah, essa ânsia e essa sina, eu as descobri, incauto, num repente,
ainda menino, dentro do Poema Sujo de Ferreira Gullar.


JL Semeador de Poesias, o José Luiz de Sousa Santos, na Lapa, em 07/09/2010

Um comentário:

  1. Um jeito forte de falar esses trem, moço! Me deixou quase de palavra morta e, às vezes, bem parecida com esse escrito.

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