quinta-feira, 18 de outubro de 2018

Sibila

Já quase não enxergo o teclado
embaçado a fim de desenjaular
o verso insinuante, raro e erradio,
dessa opressão infinita do infinito.

Já quase não pretendo o que nada
tangencia, roça, esbarra ou rabisca
as lacunas dos labirintos da poesia.
Ouço silêncios. O escuro. As ciladas.

Já quase não relaxo em ócios do ofício
constante de reconhecer o desconhecido,
de a engenharia da palavra fazer o link
entre a passarela imagética dos signos.

Já quase não respiro e nos jardins em volta,
vou e volto, vou e persigo e insisto na derrota
anunciada, pois o poeta não tem mais chance
contra a fome dos ágoras, atrás do rabo do antes.

Já quase não duvido mais de que a solidão cria
vozes secretas pelas frestas repletas de vazios,
de ecos sem gritos e de sílabas que movem-se
por meio de delicados timbres e variados códices.

O poema é uma lufada sibilina. Sem sul. Sem norte.

Marlos Degani

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