sábado, 8 de agosto de 2015

O que eu imaginava

Um céu superlotado, nenhum canto na piscina. Ocupado, o forno pra nossa costela no bafo. Nem fut. Definitivamente, não era o que eu imaginava. Todos os dias já foram previamente agendados na portaria. Não pego elevador subo sobre o relevo ̶ as paredes do elevador de serviço estão encobertas por almofadas como os quartos dos loucos para que não firam as próprias cabeças. Por isso os elevadores do céu não têm espelhos. 2º bloco Subo sobre o relevo até a cobertura e o cansaço, sentindo mau agouro em cada pavimento, passando a aumentar com o mormaço. Entre o calhau dos jardins de inverno, as pequenas plantas palmeiras anãs decoravam os terraços falsos. As luzes das arandelas nas marquises incidiam sozinhas os divãs do hall de entrada. Um dj tocava Kitaro, ad infinitum, por todo o espaço. Os apartamentos rescendiam à cheiro de comida zen, ou incenso contrabandeado. Chego no andar superior, um anjo me confirma, fui mandado pro lugar errado: ̶ Isso aqui é o inferno, amigo, o céu é no bloco ao lado."
Jorge Luiz Mendonça Martinez

2 comentários:

  1. Caro Jorge Luiz Mendonça Martinez, deu vontade de chorar com esse negócio que vc escreveu, rapaz!!!!!! Que inteligência poética é essa, cara!!! Colei... não. Cortei. E vou doer, digo, não, é, colar lá na minha página do face!!!

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    1. Oi, Marcio! Desculpe, vi seu comentário agora, dois anos depois. Poxa, obrigado!

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